Tuesday, August 02, 2011

Soneto do maior amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.

Vinícius de Moraes

Friday, July 22, 2011

Fotografia

Fotografias são mentiras.
No momento em que serão registradas
só se ouve o "Sorria!",
Falsa fotografia!
Abrem-se os dentes e mais nada.
Mas mentiras porque não estão lá.
E iludem, e lembram porque foram registradas.
Fotografias...
Sorrisos gelados do passado que não temos mais.
Não quero ser fotografada.
Por favor, não me fotografem mais!.

" E velha, tão velha ficou nossa fotografia"

Thursday, July 21, 2011

Silêncio

Eu não lamento, não lamento por te ter como amigo.
Há um amor que encerra liberdade
E uma paz, uma paz de te amar somente aqui comigo.
Uma paz que por vezes me atormenta,
Que me faz rir e que não mais me faz chorar.
Não te quero pois não sou digna do amor.
Porém há um amor de sincera eternidade...

(Certa de que vai como veio...)

Tuesday, May 31, 2011

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.

Vinícius de Moraes

Depois de tanto...cá estou outra vez.

Monday, December 14, 2009

Olavo Bilac

Me traduzem:

Remorso


Às vezes uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando,
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah ! Mais cem vidas ! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando !

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude.

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse !

Maldição


Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...



"Nel mezzo del camin...


Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo."


Ora (direis) ouvir estrelas!


XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Ontem


XXVII

Ontem - néscio que fui! - maliciosa
Disse uma estrela, a rir, na imensa altura:
"Amigo! uma de nós, a mais formosa
"De todas nós, a mais formosa e pura,

"Faz anos amanhã... Vamos! procura
"A rima de ouro mais brilhante, a rosa
"De cor mais viva e de maior frescura!"
E eu murmurei comigo: "Mentirosa!"

E segui. Pois tão cego fui por elas,
Que, enfim, curado pelos seus enganos,
já não creio em nenhuma das estrelas...

E — mal de mim! — eis-me, a teus pés, em pranto...
Olha: se nada fiz para os teus anos,
Culpa as tuas irmãs que enganam tanto!


Penetrália


Falei tanto de amor!... de galanteio,
Vaidade e brinco, passatempo e graça,
Ou desejo fugaz, que brilha e passa
No relâmpago breve com que veio...


O verdadeiro amor, honra e desgraça,
Gozo ou suplício, no íntimo fechei-o:
Nunca o entreguei ao público recreio,
Nunca o expus indiscreto ao sol da praça.


Não proclamei os nomes, que baixinho,
Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho
Em funda sombra o meu melhor carinho.


Quando amo, amo e deliro sem barulho;
E quando sofro, calo-me, e definho
Na ventura infeliz do meu orgulho.


Um Beijo


Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior...Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!


Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...

Friday, June 13, 2008

Se muito sofri já, não me perguntes

Se muito sofri já, se ainda sofro

Por teu amor?!

Não me perguntes! que do inferno a vida

Não é pior! ...

Eu! vegetar da terra entre os felizes!

Que faço aqui?

Sonhos de amor, de glória, — lá se foram

Atrás de ti!

A ver se encontro d'esperança um raio

Olho em redor,

E nada vejo, e mais profunda sinto

No peito a dor!

Que faço aqui? Dias cansados, anos

Sem fim — durar!

Depois que te perdi, viver ainda,

Viver! penar! ...

Eu, não! Quem for feliz que preze a vida,

Tema perdê-la!

Por mim não tenho horror, nem tédio à morte,

Clamo por ela!

Bendita seja pois a que mandada

Me for — por Deus.

Matar-me, não; que quero ver-te ainda

Feliz nos céus!

Mas no pego da dor, em que me abismo?

— Nesta aflição

Negra como a do cego que na estrada

Esmola o pão!

Como a do viajor que pelas trevas

Sem tino vai,

E, errado o trilho, se embrenhou nas matas,

Nem delas sai!

Neste viver sofrendo, errante, louco,

Mísero Jó,

Que amigos e inimigos à porfia

Pungem sem dó!

Às vezes, da amargura no remanso,

Ao Criador

Minha alma eleva cânticos de graças,

Hinos de amor!

Que se estivesse em mim renascer hoje,

Sofrer o que sofri...

Eu quisera viver para ainda amar-te

E amado ser por ti!

(Gonçalves Dias - 16/06/1861)

Monday, May 12, 2008

Apelo

Ah, meu amor não vás embora
Vê a vida como chora
Vê que triste esta canção
Ah, eu te peço não te ausentes
Porque a dor que agora sentes
Só se esquece no perdão

Ah, minha amada, me perdoa
Pois embora ainda te doa
A tristeza que causei
Eu te suplico não destruas
Tantas coisas que são tuas
Por um mal que já paguei

Ah, minha amada, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses um momento
Todo o arrependimento
Como tudo entristeceu

Se tu soubesses como é triste
Eu saber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus
Ah, meu amor, tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.
(Vinícius de Moraes )

Friday, May 09, 2008

Só!

Muito embora as estrelas do Infinito
Lá de cima me acenem carinhosas
E desça das esferas luminosas
A doce graça de um clarão bendito;

Embora o mar, como um revel proscrito,
Chame por mim nas vagas ondulosas
E o vento venha em cóleras medrosas
O meu destino proclamar num grito,

Neste mundo tão trágico, tamanho,
Como eu me sinto fundamente estranho
E o amor e tudo para mim avaro...

Ah! como eu sinto compungidamente,
Por entre tanto horror indiferente,
Um frio sepulcral de desamparo!

Cruz e Souza

Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andradre

Thursday, February 21, 2008

Não digas nada!

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...

Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa

Tuesday, September 11, 2007

Soneto de Véspera

Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto te esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrimas terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou - fria de vida ?

Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

(Vinícius de Moraes)

Monday, September 03, 2007

Hoje 'stou triste, 'stou triste

Hoje 'stou triste, 'stou triste.
'Starei alegre amanhã...
O que se sente consiste
Sempre em qualquer coisa vã.

Ou chuva, ou sol, ou preguiça...
Tudo influi, tudo transforma...
A alma não tem justiça,
A sensação não tem forma.

Uma verdade por dia...
Um mundo por sensação...
'Stou triste. A tarde está fria.
Amanhã, sol e razão

Fernando Pessoa

É uma brisa leve

É uma brisa leve
Que o ar um momento teve
E que passa sem ter
Quase por tudo ser.
Quem amo não existe.
Vivo indeciso e triste.
Quem quis ser já me esquece
Quem sou não me conhece.

E em meio disto o aroma
Que a brisa traz me assoma
Um momento à consciência
Como uma confidência.

Pessoa !!!

Se alguém bater um dia à tua porta

Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco.
Esse era Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta


Fernando Pessoa

Vida

A vida nos prega peças
Difíceis de engolir
Ela me deixa confuso
Sem saber pra onde ir

A vida é complicada
Pra vc e pra mim tbm
Mas se vc procura um amor
Espere que um dia ele vem

Refrão
"Vida vazia Vida sem futuro
Vida sem explicação Um ponto de interrogação!
Vida vazia Vida sem rumo
Vida incompreendida de um sofredor"

Se ele se foi Pra nunca mais voltar
Bola pra frente cabeça erguida
Pois vc não foi feita pra chorar

Se nada mais importa e vc só pensa em morrer
Isso é uma doença E a vida é o remedio pra vc ...
Refrão

By Mago

Thursday, July 26, 2007

Minha nova adorada : "The Sudden hand of some Hidden Spectre"

Sonnet
The sudden hand of some hidden spectre (Súbita mão de algum fantasma oculto)
Between the folds of the night and my slumber(Entre as dobras da noite e do meu sono)
Shakes me and I awake, yet in the forlornness(Sacode-me e eu acordo, e no abandono)
Of the night I perceive no gesture nor shape.(Da noite não enxergo gesto ou vulto.)

But an ancient terror, unburied (Mas um terror antigo, que insepulto)
Which I carry in my heart, like a throne(Trago no coração, como de um trono)
Descends and implants itself as my lord and master(Desce e se afirma meu senhor e dono)
Without command, nor gesture, nor insult.( Sem ordem, sem meneio e sem insulto.)

And I feel my life suddenly(E eu sinto a minha vida de repente)
Bound by the thread of the Unconscious(Presa por uma corda de Inconsciente)
To some nocturnal hand that guides me(A qualquer mão nocturna que me guia.)

I feel I am no one but a shadow(Sinto que sou ninguém salvo uma sombra)
Of a shape which I cannot see yet overshadows me(De um vulto que não vejo e que me assombra)
And in nothingness I exist like the shiver of darkness.(E em nada existo como a treva fria)
(1917)Fernando Pessoa

Wednesday, July 25, 2007

Velho Tema

Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.


O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.


Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,


Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Vicente de Carvalho

Thursday, March 01, 2007

Dedicatória

"É só teu o meu livro; guarda-o bem;
Nele floresce o nosso casto amor
Nascido nesse dia em que o destino
Uniu o teu olhar à minha dor! "
*******************************

Teus olhos têm uma cor
Duma expressão tão divina,
Tão misteriosa, tão triste ,
Como foi a minha sina.

É uma expressão de saudade
Vogando num mar incerto.
Parecem negros de longe,
Parecem azuis de perto.

Mas nem negros nem azuis
São teus olhos, meu amor,
Seriam da cor da mágoa
Se a mágoa tivesse cor!

FLORBELA ESPANCA "AS QUADRAS DELE" (EM "TROCANDO OLHARES" 1915)

Mentiras

Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?

Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito…

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!


F.E

Wednesday, February 28, 2007

O maior bem

Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.

Mesmo a beijar-me, a tua boca mente...
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!...

Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas caseiras,
Este mísero pungir, árduo e profundo,

Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?

F.E

Friday, February 09, 2007

Gozo Insatisfeito

Entre o gozo que aspiro, e o sofrimento
De minha mocidade, experimento
O mais profundo e abalador atrito...
Queimam-me o peito cáusticos de fogo
Esta ânsia de absoluto desafogo
Abrange todo o circulo infinito.
Na insaciedade desse gozo falho
Busco no desespero do trabalho,
Sem um domingo ao menos de repouso,
Fazer parar a máquina do instinto,
Mas, quanto mais me desespero, sinto
A insaciabilidade desse gozo!

A.A

Tuesday, January 16, 2007

Encontro

Aquela noite, tudo deveria ser, aquela noite…
Deveria ser tão maravilhosa, mas eu caí profundamente.
Perdi-me completamente, perdi-me em pensamentos que ousavam não acabar,
Não me deixando ser que eu realmente sou,
Não me deixando ver onde realmente estou.
Então tudo me cegou, e as sombras me cobriram,
O doce sabor do vinho, o suave som no ar.
Eu não sabia realmente porque estava ali,
Eu talvez não queria apenas aceitar,
O meu verdadeiro eu, o meu lugar.
O que procuro, o que desejo, o que sou...
Comecei a descobrir a partir de então,
Descobri que a verdade estava em meu coração.
E eu mostrei a quem estava a meu lado,
Que em determinados momentos estavas errado
Mostrei-lhe a verdade então, e ele se espantou...
A verdade parecia improvável, mas ele acreditou.
Então deixamos as sombras da noite nos cobrir, porque era o nosso lugar,
E perdidos em meio a tantas sombras nossas palavras aqui devem findar.
Hoje sei que fui parte dele algum dia...
Sim...Eu sei.
ddn/hdp

Thursday, December 21, 2006

...

O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam. Mas, para os que amam, o tempo é eternidade". (Shakespeare)

Sunday, December 03, 2006

Alma viúva das paixões da vida,
Tu que, na estrada da existência em fora,
Cantaste e riste, e na existência agora
Triste soluças a ilusão perdida;

Oh! Tu, que na grinalda emurchecida
De teu passado de felicidade
Foste juntar os goivos da Saudade
Às flores da Esperança enlanguescida;

Se nada te aniquila o desalento
Que te invade, e o pesar negro e profundo,
Esconde à Natureza o sofrimento,

E fica no teu ermo entristecida,
Alma arrancada do prazer do mundo,
Alma viúva das paixões da vida.
(Infeliz-Augusto dos Anjos)

Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
"Parece Sexta-Feira de Paixão.
Sempre a cismar, cismar de olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe...

O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por estar contente! Pois então?!...
"Quando se sofre, o que se diz é vão...
Meu coração, tudo, calado, ouviste...

Os meus males ninguém m'os adivinha...
A minha Dor não fala, anda sozinha...
Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!...

Os males de Anto toda a gente os sabe!
Os meus ...ninguém... A minha Dor não cabe
Em cem milhões de versos que eu fizera!...
(Impossível- Florbela)


Ó castos sonhos meus!Ó mágicas visões!
Quimeras cor de sol de fúlgidos lampejos!
Dolentes devaneios! Cetíneas ilusões!
Bocas que foram minhas florescendo beijos!

Vinde beijar-me a fronte ao menos um instante,
Que eu sinta esse calor, esse perfume terno;
Vivo a chorar a porta aonde outrora o Dante
Deixou toda a esp'rança ao penetrar o inferno!

Vinde sorrir-me ainda!Hei-de morrer contente
Cantando uma canção alegre, doidamente,
A luz desse sorriso, ó fugitivos ais!

Vinde beijar-me a boca ungir-me de saudade
Ó sonhos cor de sol da minha mocidade!
Cala-te lá destino!... "Ó Nunca, nunca mais!..."
(Nunca Mais)

Tuesday, November 07, 2006

Shakespeare

"A verdade, é que não te amo com meus olhos que descobrem em ti mil falhas. E sim com meu coração, que ama o que eles desprezam e apesar do que vê adora se apaixonar".

Thursday, November 02, 2006

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

Monday, October 30, 2006

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre

Manuel Bandeira

Thursday, October 26, 2006

Último Soneto

Já da noite o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito, embalde num macio encosto,
Tento o sono reter!... Já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos, por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

(Álvares de Azevedo)

Wednesday, October 18, 2006

Eu

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me -Pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca
Alguns fragmentos da melhor poetisa de todos os tempos: Florbela Espanca.

...Talvez um dia entenda o teu mistério
-Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
(Mistério)

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento! ..."
(A vida)

..."Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto! ...."
( A morte)


"...Toda a noite choraste...e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh`alma
Que chorasse perdida em tua voz!... "
(Alma Perdida)

..."E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
(Amar)

..."Sem ironia amor obrigada
Obrigada por tudo o que me deste

Por aquela tão docee tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
(Canção grata)


Cantigas Leva-as o Vento...

A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste
.
Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade!

Sunday, October 01, 2006

Você

"Você que tanto tempo faz
Você que eu não conheço mais
Você que um dia eu amei demais
Você que ontem me sufocou,
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade
Você que já não diz pra mim
As coisas que eu preciso ouvir
Você que até hoje eu não esqueci
Você que eu tento enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade é que em mim você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você e hoje nada sou..."

Roberto Carlos

Tuesday, July 11, 2006

Meus Sentimentos

Foi um simples olhar
E conseguiste penetrar em mimha alma
Quando finalmente nossos lábios se encontraram
Senti-me completamente embriagada
No delírio desta paixão
Não quero encontrar a lucidez
Pois certamente o perderei
E se o perder
Volta-se à realidade
E a realidade é um vazio profundo
Como a noite escura sem luar
É como estar rodeado de gente
Sentindo-se completamente só!
Mas tendo dentro de si
Desejo de paixões
Mas paixão queima
E queima como fogo
E o fogo pode se apagar
E se apagando leva consigo
A ilusão de ser feliz
Mas não levará de mim
Meus sentimentos


Por Josy Camargo

Monday, July 10, 2006

Soneto de Fidelidade

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, se sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure"

Vinícius de Morais

Até o dia em que eu...

As coisas já mudaram
As coisas se acertaram
Mas parece que nada aconteceu!
Parece que só quem não mudou foi eu!

Minha cabeça gira
Em busca de uma explicação
Pra concertar minhas falhas
E então sair da escuridão

Ainda não sei por onde começar
Só sei que não tenho pressa
Tenho calma pra recomeçar
E pra escutar minha cabeça

Que quer sumir daqui
Que quer fugir de mim
Pois não pode suportar
Ouvir meu coração dizer amar

Alguém que não está aqui
Que não pode me amar
Alguém que me causou uma dor
Capaz talvez de me matar

E enquanto isso eu vou levando
Tentando esquecer
Este amor tão complicado
Até o dia em que eu...

por Mago

Thursday, July 06, 2006

A Maior Tortura

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia ...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite !

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia ! ...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite !

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado !

Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor !

Florbela Espanca

Asas Abertas

"As asas da minh'alma estão abertas!
Podes te agasalhar no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trêmulas, incertas.

Tu'alma lembra vastidões desertas
Onde tudo é gelado e é só espinho.
Mas na minh'alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh'alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
O segredo dos longes procurando..."

Cruz e Sousa

O último beijo

Tomo-te junto a mim desesperadamente,
Ciente de que esta será a ultima vez.
Envolvendo-a com fortemente em meus braços,
Que fraquejam de languidez.

Aproximo-me de tua bela face,
Face como a qual jamais vi e verei.
Beleza esta incalculável e indescritível,
Que palavras para expressar nunca encontrarei.

Olho profundamente em vossos olhos,
Ate poder ver o reflexo de minha’lma.
Clamando por mais um instante...
Gritando por mais um momento...
Padecendo pelo que não mais terei.

Posso sentir o calor da respiração ofegante,
Que de tua boca exala sem cessar.
Contrastando com o toque gélido de teus lábios,
Que aos meus acaba de encontrar.

Beijo-te incessantemente,
Esquecendo que brevemente findaras.
Este momento de encanto e entusiasmo,
Este momento sutil e fugaz.

Desejos soturnos que se libertam,
Quem se queimam em corpos ardentes,
Fazendo com que a essência deste momento,
Fique para sempre em nossas mentes.

Agora é hora de tudo acabar,
Agora tudo findou realmente.
Agora o fim esta muito próximo,
Agora o fim esta a minha frente.

Sim, agora sim...
Agora posso morrer em seus braços.

Por HDP

Sunday, July 02, 2006

Pra você

Lembranças de você
Confundem minha mente
Não sei se lembro do meu amor
Ou da sensação de te ter!
Sua sedução marcou minha alma
Pra sempre irei saborear
Cada vez que ouvir esta canção
A sensação que me acalma
Sentir vc em meus pensamento
É como se pudesse vivenciar
Ter você em meu corpo
Como nos primeiros momentos
Por fim, não sei como finalizar!
Sinto este sabor em minha boca
Que me faz da tua lembrar
Mergulho profundamente
Na sensação de te amar
O que seria dessa citação de amor
Se não fosse lembrar
Do nosso mundo
Do nosso modo de amar?
Apenas escrevo inconscientemente
Inconscequente,o mais extenso dos versos meus
Para ti sempre guardar
Pois dentro de meu coração sempre estará
Essa poesia que não quer findar
31/06

Saturday, June 24, 2006

A Minha Tragédia

Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minh'alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!

Ó minha vã , inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!...

Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém , de ser assim!

Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...

Florbela Espanca

Friday, June 23, 2006

Eu

Eu...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê.
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou.

Florbela Espanca